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Psicóloga: “Quanto mais cedo tratar, melhor será a vida do autista”

O transtorno do espectro autista é uma condição que atinge mais de 10 mil pessoas em Mato Grosso, de acordo com a Associação dos Amigos do Autista de Cuiabá (AMA).

A partir do último Manual de Saúde Mental, que é um guia de classificação diagnóstica publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, o autismo e todos os distúrbios – incluindo o transtorno autista, transtorno desintegrativo da infância, transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS) e síndrome de asperger – fundiram-se em um único diagnóstico chamado transtornos do espectro autista (TEA).

O TEA é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento

Saber lidar com a condição e buscar tratamento desde cedo pode fazer toda a diferença na qualidade de vida de uma pessoa autista.

Janielly Cássia Barbosa é mãe de um menino autista de quatro anos.

O diagnostico começou a ser feito a partir de um ano e três meses, quando a mãe procurou um ortopedista, porque seu filho ainda não dava sinais de que fosse andar.

Na consulta, o médico disse que não havia nada de errado com o bebê e encaminhou Janielly a um outro profissional. E assim começou a busca pelo diagnóstico de autismo.

É possível [melhorar] desde que ele seja trabalhado. Precisa de ajuda profissional, sozinha a família não consegue

“Nós passamos por todos os especialistas, psicólogo, neurologista, oftalmologista, etc. Eu ficava angustiada porque ele nem engatinhava, ele sentava e ficava imerso. Mas depois de alguns meses finalmente começou a andar, e a essa altura já existia a suspeita de autismo”, conta a mãe.

Janielly começou a procurar a ajuda profissional desde cedo e, por causa disso, hoje percebe os avanços no desenvolvimento do filho.

“Hoje ele verbaliza, fala palavras, frases, como mamãe, papai, água, titia, vó. Então o resultado do fonoaudiólogo, de quatro anos atrás, está vindo agora. As terapias foram importantes e são importantes para o desenvolvimento dele. Hoje não consigo ficar sem. Comecei a me fortalecer, para ajudar o meu filho e a mim mesma, a partir das terapias”, conta.

O laudo do filho de Janielly já foi concluído, e ele foi diagnosticado com autismo.

Janielly continua com o tratamento da criança com os especialistas, e hoje ele já frequenta uma escola regular com outras crianças de sua idade.

O tratamento contínuo, e precoce, é essencial para melhorar a qualidade de vida de um autista, como recomenda a psicóloga Jane Cássia Barbosa.

“Se ele passar por um diagnóstico correto, se fizer uma intervenção corretamente, quando criança, com os profissionais, ele conseguirá sim ter uma vida saudável, uma vida melhor. Quanto mais cedo buscar ajuda, melhor será a vida do autista”, afirmou.

A psicóloga afirma que o autismo propriamente dito é uma das condições que estão incluídas dentro do transtorno do espectro autista, que pode ter três níveis.

“Tem o nível leve, o moderado e o grave. No leve, que é o caso da síndrome de asperger. A pessoa vai ter um prejuízo no desenvolvimento, mas ela consegue se desenvolver um pouco melhor do que os outros. Mas quando a pessoa é diagnosticada como autista mesmo, já é um nível mais crônico, mais grave, e que normalmente a reabilitação já se torna um pouco mais difícil. Tem como reabilitar, reprogramar os hábitos, mas é mais difícil” disse.

Ela explica que o transtorno do espectro autista provoca atrasos no desenvolvimento cognitivo e que as causa ainda estão sendo estudadas.

“Existem estudos que dizem que é genético, porém ele não é hereditário. Não é porque o pai é autista que o filho obrigatoriamente vai ser. Até porque o autismo é um atraso de desenvolvimento, onde existem três características diagnósticas: o déficit na interação social, o déficit na comunicação e o déficit no comportamento”, diz.

Jane explica que os sentidos de uma pessoa autista são mais aguçados do que o das outras pessoas e a atenção deles é mais focada.

 

“O autista sente mais, percebe mais, então ele está preso dentro de si. Ele não isola os sentidos que não estão sendo usados. Ele sempre está atento a todos eles, e carrega todas estas informações para dentro dele. A própria palavra ‘autismo’ diz, ‘auto’ é de si próprio, é eu comigo mesmo, então ele está focado neste mundo”, conta.

Justamente por serem focados em si mesmos, os autistas conseguem desenvolver habilidades com mais excelências que outras pessoas.

“Como ele não está preocupado com o que está acontecendo ao seu redor, ele consegue desenvolver habilidades e competências que uma pessoa dita ‘normal’ não consegue da mesma forma. Aí geralmente vem o talento, vem a questão da arte, da matemática. E é importante a família incentivar o autista na área que ele demonstrar interesse”, disse Jane.

A família do autista também sofre com o transtorno, muitas vezes por não saber como lidar ou a quem procurar.

“Quando uma criança é diagnosticada com autismo, com transtorno do espectro autista, a família toda também se torna parte do autismo, ela também adoece junto, porque mexe em toda dinâmica da família. Então não adianta cuidar apenas da criança autista, tem que cuidar também desta família. A gente precisa entender que a família também está adoecida, e ela também precisa de cuidados, de acompanhamento”, explicou.

Jane trabalha atendendo os autistas e suas famílias e diz que sem ajuda profissional é muito difícil conseguir um avanço.

“Na clínica, eu procuro atender as famílias, atender esta criança também, ensinando pra ela algo novo, ensinando a se expressar de uma forma correta, reprogramar o comportamento, o pensamento, possibilitando uma melhor qualidade de vida, tornando esta criança um pouco mais autônoma. Porque é possível, desde que ele seja trabalhado. Precisa de ajuda profissional, sozinha a família não consegue”, disse a psicóloga.

Associação dos Amigos do Autista

Em Mato Grosso existem várias associações de apoio aos autistas. Em Cuiabá atua a AMA (Associação dos Amigos do Autista de Cuiabá).

Segundo Kelly Cristina Viegas, presidente da AMA, o papel da associação é trazer informação e amparo para as famílias de autistas.

 

“O papel da associação hoje é dar um apoio para os pais. A gente vai em busca dos direitos, tanto na saúde e na educação. A gente dá um amparo para onde os pais devem encaminhar os filhos, a quem procurar. Nós fazemos também oficinas de jogos pedagógicos, para ajudar os pais a trabalhar em casa. Porque, além do tratamento terapêutico fora do ambiente de casa, tem que fazer dentro de casa também. Então a gente dá todo esse amparo para eles”, contou.

A AMA atende crianças, adolescentes e também a adultos. Além de auxiliar as famílias na Capital, a associação às vezes dá apoio a famílias de outras cidades de Mato Grosso.

“A gente conversa com bastante gente do interior. Mas existem outras associações também, em Rondonópolis, Cáceres… E nós sempre nos comunicamos. Tem gente do interior que liga e a gente dá aquele amparo, conversa…”, explica.

Kelly diz que a AMA está sempre disponível a quem necessitar de ajuda, oferecendo amparo e informações às famílias, relacionadas às leis, ajuda médica e também outras dicas.

“Nós, da associação, estamos abertos. O meu telefone é 24h. Muitos me ligam pra procurar informações mesmo, como tios e tias. Falam que têm um sobrinho que têm os sinais. Aí eu oriento, falo para procurar um pediatra, passo todo o caminho. Porque no começo é difícil, mas é gratificante, pra mim foi muito gratificante. Eu mudei como pessoa, aprendi a dar mais valor na vida”, disse Kelly.

Via Midia News

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