Desenhar é um dos passatempos preferidos da criançada. Com papel e lápis na mão, os pequenos ficam livres para soltar a imaginação. Através desses desenhos e de outras brincadeiras lúdicas é possível interpretar o que eles estão sentindo. Isso é possível por meio da Ludoterapia, que é uma psicoterapia adaptada para o tratamento infantil, através do qual a criança, brincando, projeta seu modo de ser.
O objetivo dessa modalidade de análise é ajudar a criança, através da brincadeira, a expressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades, ajudando-a em sua solução para que consiga uma melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da sociedade em geral.
O terapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender o mundo interno e a dinâmica da personalidade da criança. Para isso, buscam-se instrumentos através dos quais as projeções são facilitadas uma vez que, quanto menor a criança, mais difícil é para ela verbalizar adequadamente seus conflitos. Pode ser brincar de casinha, criação e prática de estórias e contos de fadas, jogo do rabisco, desenho, pintura, modelagem, dentre várias outras atividades.
A psicóloga Silvana Cunha é especialista na modalidade em Alagoas. Segundo ela os casos mais frequentes são as “perdas”: separação dos pais, chegada de um novo filho. Problemas de aprendizagem, bullying, depressão, problemas na sociabilidade, e transtornos do desenvolvimento infantil.
“Quando iniciei como ludoterapeuta, as crianças chegavam a partir de sete oito anos, por conta de tantos problemas com a dinâmica da sociedade estão absorvendo o estresse dos adultos adoecendo psicologicamente precocemente. Vejo a ludoterapia como um trabalho preventivo para a criança, pois ela aprende a conhecer seus sentimentos e lidar com eles. Do mesmo modo a família ao participar, passa a refletir sobre a maneira mais correta de lidar com as situações adversas que surgirem no cotidiano”, contou.
Ainda de acordo com Silvana, em crianças, os traumas mais frequentes vem com as questões que envolvem a separação dos pais, adaptação escolar. Segundo ela
Com adolescentes conflitos de gerações, falta de diálogo entre pais e filhos abuso dos eletrônicos, prejudicando o rendimento escolar, e, em casos mais graves, a automutilação.
Crianças usam várias técnicas para se expressarem durante o tratamento
FOTO: Arquivo Pessoal
“Me chamou atenção essa problemática dos cortes e divulgação disso pelas redes sociais. Percebemos que a dor psicológica é tão intensa que sentem necessidade de forçar a dor física para suportar, além de que é um pedido de socorro aos familiares”, explicou.
A participação dos pais é fundamental para o sucesso do tratamento porque eles estão, invariavelmente, ligados ao quadro apresentado pela criança. “Não se trata de culpá-los pelo problema. É que a criança é, em geral, uma espécie de reflexo da dinâmica familiar. Daí a importância do envolvimento dos pais no tratamento, para que se possa tratar a criança, orientando-os e recebendo deles o feedback necessário ao acompanhamento do caso”, completou.
Como detectar a necessidade
Silvana explica que os pais devem sempre participar das atividades da criança e perceber se alguma coisa mudou. Se o filho passa a demonstrar tristeza, se regrediu em algum comportamento, como voltar a fazer xixi na cama, introspecção, isolamento, irritabilidade.
“Se perceber um comportamento diferente do habitual, se aproxime tente descobrir algo e caso não perceba melhoras, procure um psicólogo especialista com crianças para conversar, inicialmente. Em seguida, se for o caso, iniciamos o tratamento”, conclui.
Estudantes de Psicologia durante aula sobre ludoterapia
FOTO: Arquivo Pessoal
Via Gazeta Web