Uma das principais características de uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a dificuldade de interação social. Para algumas mães é quase impossível pensar em não manter uma relação de total afeto com os filhos. Para as mães de autistas a maternidade vai além de um abraço, uma conversa ou uma brincadeira. Ao G1, a mãe da Angela e da Ana Louise contaram sobre as alegrias e dificuldades em dar a vida a uma criança autista.
“No começo, como mãe, foi um período muito difícil porque a gente aceita que tem uma criança especial, mas não sabe como lidar”, afirmou a publicitária Lauren Ferreira, de 34 anos, mãe da Angela, de 14 anos, diagnosticada com autismo.
Tanto para Lauren, quanto para a dona de casa Layanna da Rocha, de 30 anos, a descoberta do transtorno foi difícil e um dos momentos mais complicados da maternidade.
“É um impacto muito grande para qualquer mãe, de receber o diagnóstico. A gente não espera até porque os pais têm muitos planos para os filhos e com certeza é um impacto muito grande, a gente chora, mas aí a gente percebe que a gente não deve se fechar só nesse sentimento de tristeza e sim correr atrás em busca do sucesso dos nossos filhos”, comentou Layanna.
A pequena Angela nasceu em 2003 e após uma sequência de crises convulsivas com apenas seis meses de idade, a família percebeu algo diferente, mas o diagnóstico veio apenas quando ela tinha cinco anos.
“Ela completou um ano, completou dois anos, completou três anos e a gente via que ela ficava muito no mundo dela, ela não falava, não tinha coordenação motora direito, teve atraso em todo o desenvolvimento dela que atrapalhou muito. Mais ou menos quando ela tinha cinco anos a gente conseguiu fechar o diagnóstico de que ela tinha autismo”, afirmou Lauren.
Ana Louise, de 5 anos, teve o diagnóstico da doença ano passado, em 2016. “À partir dos dois anos nós corremos atrás, primeiro da otorrino para saber a respeito da audição dela, para saber por que ela não falava e aí a gente descobriu que a audição dela é perfeita e ela pediu que nós procurássemos a fonoaudióloga e um neuropediatra e aí foi quando iniciou a batalha”, disse Layanna.
Para as duas mães, momentos difíceis e gratificantes se unem na história das filhas e superam barreiras como o preconceito e a falta de informação.
“No começo eu fiquei muito frustrada porque a gente cria uma expectativa, socialmente falando, e ninguém prepara uma pessoa, um homem ou uma mulher não são preparados para ser pai ou mãe de uma criança especial, então a gente já cresce e já faz a família, engravida e com aquela expectativa que vai estar tudo ok”, afirmou Lauren.
A publicitária afirmou ainda que a dificuldade de interação social da filha foi um dos pontos mais fortes a serem enfrentados ao longo dos 14 anos. “As pessoas não entendem e às vezes a gente fica um pouco chateado. Por exemplo, ela não consegue muito ter contato, ela é autista e o autista tem esse padrão de comportamento que é não ser sociável, principalmente do grau mediano, e as pessoas querem que ela se encaixe dentro de um padrão e na verdade ela não vai fazer isso porque o padrão dela é outro, é diferente”, contou.
Lições
Ser mãe de uma pessoa autista requer esforço e, segundo as mães, vontade de estar aberta a ensinamentos. Ao G1, cada uma relatou o que aprendeu com as filhas e o que devem levar como lição da maternidade.
“Essa convivência com a Angela, em 14 anos, mostrou que eu posso ter contato com pessoas diferentes, ter uma relação diferente, não só com ela que é uma criança especial, mas com todas as pessoas. Me proporcionou uma visão mais flexível com o ser humano”, afirmou Lauren.
Para Layanna, o sentimento e a força de ser mãe se mostraram presentes durante os poucos anos com a filha. “Ela me ensinou a lutar e imaginar do quanto eu posso ir longe por ela, e ver que eu posso ir muito mais”, contou.
Vitórias
O autismo pode ser classificado em vários graus e, dependendo da intensidade do distúrbio, as vitórias podem vir de várias formas. Para as mães, os anos de vida ao lado das filhas já geraram momentos únicos de grande felicidade.
Para a publicitária Lauren Ferreira, as vitórias da filha são diárias e até pequenas aos olhos de quem vê de fora.
“Para mim, como mãe da Angela, é gratificante e empolgante quando eu vejo ela comendo sozinha, quando eu vejo ela chegar e me dar um beijo, ser carinhosa, dizer que me ama, me chama de mãezinha, então essas coisas pra mim, esse carinho que ela tem, como ela é autista e autista geralmente não gosta desse contato, então saber que ela é carinhosa, ela tem esse significado de amor de mãe com filha que eu achei que não fosse saber o que ela, e durante muito tempo eu não soube”, contou.
Para Layanna, com cinco anos a filha Ana Louise já carrega consigo uma lista de pequenas vitórias que enchem o peito da mãe de orgulho, segundo ela.
“Já aconteceram várias vitórias, mas a principal que ela mostrou que é capaz de conseguir foi quando ela passou a comer sozinha, quando ela segurou a colher, que ela sentiu vontade de encher a colher e levar a boca. Hoje a gente estava comemorando que ela aprendeu a soprar. Cada desenvolvimento, por mínimo que seja dela, é uma grande vitória pra mim”, disse.
Via G1