Muitas famílias ainda possuem dúvidas em relação ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Há quem confunda com outros diagnósticos. Outros têm preconceito contra a sigla TDAH e referem-se a tais crianças como birrentas e ainda culpando os pais pelo comportamento dos filhos.
O TDAH é um distúrbio neurológico com base genética reconhecido pela OMS – Organização Mundial da Saúde – que afeta adolescentes, adultos e de 3% a 5% das crianças em idade escolar. Por isso, a psicóloga Lia de Paula Moraes alerta sobre a necessidade do apoio familiar. “Os pais precisam se informar sobre o distúrbio e dar atenção à criança”.
– Por mais cansativo que seja, eles precisam cuidar para que a aprendizagem e as relações familiares e sociais aconteçam de modo satisfatório – alerta a psicóloga e autora do livro “João Agitadão”, que aborda de modo leve e afetuoso o transtorno.
A especialista diz que, em geral, o TDAH só é descoberto quando a criança vai para a escola. Porém, a observação de comportamentos diferentes nos primeiros meses de vida ajuda também no reconhecimento do quadro clínico.
Lia explica que os sintomas são nas áreas de atenção, atividade e autocontrole. Segundo ela, um exemplo bem concreto é quando se percebe que a criança possui dificuldade para manter a atenção em tarefas simples do cotidiano.
– Em contraposto, quando há grande motivação e interesse, a criança com TDAH também pode se concentrar muito no que faz, o que pode confundir um diagnóstico precoce. Por isso, precisa ter bastante cautela – diz.
Uma outra característica a ser observada é o excesso de energia. A profissional fala que os pequenos com TDAH chegam a cansar fisicamente quem está perto. “Há necessidade de uma supervisão constante, pois eles mesmos podem se colocar em situações de risco”.
– Na escola ou em casa, é fundamental que essa energia seja gasta de maneira orientada e direcionada para atividades específicas ou um esporte. Isso minimiza o problema e pode canalizar todo o esforço para coisas úteis – sugere.
Outro cuidado que a família deve ter é em relação a escolha da escola. Para a psicóloga, esse é um fator fundamental para o crescimento pessoal da criança com TDAH. Por exemplo, uma instituição que valoriza muito os conteúdos formais e possua disciplina extremamente rígida, pode não ser flexível com a demanda de atividades que crianças com o transtorno precisam.
– Não adianta obriga-la a aprender se ela já chegou ao limite. Precisamos respeitar o tempo de aprendizado de cada um e uma repetência pode nivelar a criança com os amigos e torna a relação mais saudável – conta.
A especialista reforça ainda que o trabalho em sala de aula deve ser uma extensão do trabalho feito em casa pelos pais. Por esse motivo, é importante impor limites conversando olhando nos olhos da criança, além de ter muita paciência.
– Para esses casos, é essencial ser firme, definir regras, fazer perguntas que propiciem a auto-observação. Incentive os filhos a ler em voz alta e envolva-os em atividades do dia a dia, como por exemplo, ajudar a pegar um objeto no armário – comenta.
Outra ação positiva é tentar explicar à criança o que acontece com ela, de uma forma gráfica, por exemplo. Uma sugestão é desenhar uma cabeça com compartimentos para diferentes coisas, para matemática, para atenção, para leitura, para boas ideias e outra para apetite.
– Então, mostre que no caso dela o compartimento que deveria ser da atenção está ocupado também pelo das boas ideias e assim ela teria dois compartimentos para boas ideias e um muito pequenino para atenção – explica.
A psicóloga reflete ainda que deve se levar em conta como a criança pode estar se sentindo por não corresponder às expectativas sobre seu comportamento e mostrar que se entende que ela não faz assim de propósito. “Uma regra básica é: use sempre o reforço positivo. Funciona muito melhor que apenas repreender”.
Via Jornal do Brasil